Conservação do solo:  Contribuição da Rede Paranaense de Agropesquisa

Conservação do solo:  Contribuição da Rede Paranaense de Agropesquisa

Maria Fernanda Ruas (estagiária, sob supervisão do NEPAR-SBCS)

 

O dia 15 de abril é destinado à celebração do Dia Nacional da Conservação do Solo. Oficializada pelo Decreto 7.876 de 1989, a data tem como objetivo promover a reflexão sobre a importância da conservação desse recurso natural e não-renovável para a manutenção da vida na Terra. Sistemas agrícolas conservacionistas melhoram a qualidade do solo, se comparados a sistemas convencionais, afetando positivamente o funcionamento do agroecossistema. A utilização de melhores práticas de manejo na produção agrícola contribui para a redução da perda de solo e água, atuando na consolidação da sustentabilidade ambiental e econômica.  

Como já abordado na matéria sobre conservação da água, publicada pela SBCS-NEPAR,  a Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada foi criada em 2015 com o objetivo de  difundir práticas de conservação do solo e da água. As ações da Rede são desenvolvidas por pesquisadores de instituições públicas e privadas, em parceria com o governo do estado e o Sistema FAEP/SENAR-PR e ocorrem, estrategicamente, em seis mesorregiões. 

Em cada mesorregião, há um projeto principal desenvolvido em duas escalas: a de megaparcelas, com e sem terraço e aproximadamente 2 hectares cada; e a de microbacia de 50 a 200 hectares. O sistema produtivo agrícola deve, efetivamente, representar o que é  utilizado pelos produtores locais.  O objetivo  é monitorar sistematicamente, em diferentes regiões do estado (o que envolve características específicas de cada território), eventos de chuva, a fim de contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento de técnicas de manejo do solo e da água. Além do estudo principal, são desenvolvidos subprojetos ligados à pesquisa central.

Ao todo, são seis as mesorregiões paranaenses, divididas da seguinte forma: Mesorregião Centro-Oriental – Ponta Grossa; Mesorregião Centro-Sul – Guarapuava; Mesorregião Sudoeste – Dois Vizinhos;  Mesorregião Norte- Cambé; Mesorregião Oeste- Toledo;  e  Mesorregião Noroeste – Cianorte e Presidente Castelo Branco. 

Maiores informações sobre a Rede Paranaense de Agropesquisa podem ser obtidas no site:https://www.agricultura.pr.gov.br/Rede-Agropesquisa 

Mesorregião Centro-Oriental – Ponta Grossa

Coordenadora: Profa. Neyde Giarola (UEPG)

Conforme conta a coordenadora, a região Centro-Oriental “foi pioneira na adoção do sistema plantio direto como técnica de redução e controle da erosão”, porém, diante de incompatibilidades na operação de máquinas de semeadura com a manutenção dos terraços, os agricultores abandonaram a prática – o que acarretou consequências, como a eliminação indiscriminada de terraços agrícolas. “Essas mudanças foram determinantes na retomada da erosão hídrica no Paraná”, conta a pesquisadora. Frente a essas transformações, desde 2017, pesquisas estão em desenvolvimento na mesorregião, “com o objetivo de avaliar o impacto do sistema plantio direto no processo erosivo, especificamente, no escoamento de água, perdas de solo e da produtividade de grãos”. Como resultados desses estudos, Giarola adiciona que, com a menor incidência de eventos de chuva dos últimos anos, houve limitação na coleta de dados. Apesar disso, ela ressalta que, como primeiros resultados, pode-se observar que, “na megaparcela em que o sistema de terraceamento foi associado ao sistema plantio direto, houve maior redução do escoamento superficial e da erosão dos solos, em comparação àquela em que não foram instalados os terraços”. 

Mesorregião Centro-Sul Guarapuava

Coordenador: Prof. Cristiano André Pott (UNICENTRO)

De acordo com o coordenador “além do monitoramento hidrossedimentológico e de nutrientes, o projeto também integra outros subprojetos, que visam monitorar os atributos de qualidade de solo (físico, químico e biológico), relacionados com as perdas de água, sedimento e nutrientes, além de buscar alternativas de manejo regional visando melhorar a conservação do solo e da água em áreas sob plantio direto”. Ele explica que os resultados se mostram promissores. “Nos anos iniciais do projeto, houve redução do escoamento superficial em 90% na megaparcela com terraços e em 80% na megaparcela sob plantio direto com boas práticas de manejo, indicando que ambos sistemas conservacionistas testados na região Centro-Sul do Paraná têm potencial de redução do escoamento superficial e da erosão”, afirma Pott.

Mesorregião Sudoeste – Dois Vizinhos 

Coordenador Prof.  André Pelegrini (UTFPR)

De acordo com  Pelegrini, a região Sudoeste é a que possui a maior incidência de erosividade de chuvas no estado. Ele explica que o projeto busca levantar informações de atributos do solo que podem interferir na dinâmica hidrológica e desencadear o processo de erosão hídrica. Sobre os estudos desenvolvidos na mesorregião, o docente ressalta que, além de ajudar a levantar informações para a Rede, estes também contribuem na consolidação dos cursos vinculados às ciências agrárias da UTFPR. “Os benefícios estendem-se ao ensino, que utiliza a estrutura para aulas práticas de várias disciplinas”, conta. O pesquisador chama atenção para a importância de compreender o solo como um recurso finito e ele exemplifica “é a mesma coisa que dirigir um carro, sabemos qual velocidade ele é mais econômico, quais os limites de velocidade nas rodovias, que devemos fazer a manutenção periódica, mas nem todos seguem estes preceitos”. A partir das orientações de profissionais, é possível tomar consciência sobre a importância da conservação e da adoção das práticas e manejos.

Mesorregião  Norte – Cambé e Mesorregião Oeste – Toledo 

Coordenadora:  Dra. Graziela Moraes de Cesare Barbosa (IDR-PR)

Graziela explica que os projetos desenvolvidos nas mesorregiões que coordena “monitoram os eventos de chuva e quantificam as perdas de sedimento, água e nutrientes no escoamento”. Ela adiciona que, “paralelamente, queremos valorar essas perdas com objetivo de informar os produtores qual o custo efetivo, caso a conservação do solo seja desconsiderada”. Assim como nas outras mesorregiões, os estudos desenvolvidos têm levantado informações sobre o solo, com o objetivo de tornar possível recomendações de alterações no manejo adotado pelos produtores das localidades. “Com esse banco de dados, será possível recomendar alterações no manejo adotado pelo produtor local, buscando aumentar a taxa de infiltração no solo cultivado e a redução no processo erosivo”. Ela conta que, devido à escassez de chuvas dos últimos anos, os resultados das pesquisas ainda estão em fase inicial, porém “os eventos de chuvas monitorados indicam a formação de escoamento superficial nas áreas agrícolas, mesmo sob plantio direto”. Ainda de acordo com a coordenadora, como resultados das pesquisas desenvolvidas, sabe-se que “as perdas de solo foram mais expressivas nos eventos de precipitação, quando o solo estava em condição de baixa cobertura superficial, indicando que o agricultor deve intensificar a adoção de práticas de manejo associadas como plantio direto (manejo de solo) + terraceamento (manejo de água)”. 

Mesorregião Noroeste – Cianorte e Presidente Castelo Branco

Coordenador: Prof.  Edison Schmidt Filho (UNICESUMAR)

De acordo com o coordenador, os estudos estão situados em uma “região com solos muito arenosos e, por isso, muito delicados, quando se pensa em uso agrícola”. Edison explica que o projeto também tem como objetivo avaliar o efeito sobre a qualidade física, química e biológica do solo e, consequentemente, seu efeito na produtividade e qualidade da cana-de-açucar, principal cultura produzida na região. Ele relata que a estrutura de campo foi instalada recentemente e, com isso, ainda apresenta resultados superficiais, “porém já foi observado que nas megaparcelas onde os terraços foram retirados, ocorre escoa maior escoamento, o que leva ao transporte de grande quantidade de sedimentos  e poluentes associados”. Com isso, de acordo com o pesquisador, pode-se perceber que “os solos do Noroeste Paranaense estão muito suscetíveis a processos erosivos e são facilmente degradados pelo manejo inadequado”. Por fim, Edison  conta a importância da manutenção da qualidade do solo e a necessidade do produtor estar aberto às recomendações dos profissionais da área, embasadas em pesquisas voltadas à conservação dos recursos naturais. “A preservação do solo propriamente dito, respeitando suas propriedades, significa também preservar o ambiente local e regional que compõem a microbacia hidrográfica onde o produtor vive. Nesse contexto, toda comunidade, rural e urbana da região são beneficiadas social e economicamente”, ele afirma.

 

Imagens das mesorregiões e das megaparcelas em unidades distintas.

Fonte das imagens: Graziela Moraes de Cesare Barbosa/ Leandro Rampim/  Carlos Alberto Casali/ Cristiano Pott/Site da Rede de Agropesquisa/

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