Levantamento e mapeamento dos solos: ferramenta estratégica para o desenvolvimento rural e urbano do Paraná

Levantamento e mapeamento dos solos: ferramenta estratégica para o desenvolvimento rural e urbano do Paraná

Com o acelerado crescimento populacional, em 2050 seremos em torno de 9 bilhões de indivíduos e, consequentemente, a demanda por novas áreas aumentará, seja para moradias ou produção de alimentos. O solo é um recurso essencial para a vida, pois, além de sustentar a produção de alimentos e madeira, presta serviços ecossistêmicos como regulação e abastecimento de água, regulação do clima e conservação da biodiversidade. Portanto, os solos estarão sob forte tensão.

Diante deste cenário, o levantamento e o mapeamento dos solos amplia seu papel de protagonismo para a sociedade moderna. Um trabalho árduo e de longo prazo, imprescindível para o planejamento específico de ações com vistas, cada vez maior, ao desenvolvimento sustentável.

O mapeamento tem por objetivo identificar e cartografar a distribuição dos solos com suas delimitações, considerando aspectos extrínsecos, a exemplo relevo, e intrínsecos como horizontes e atributos referenciais da classificação. Desta maneira, várias informações são geradas no sentido de transparecer potencialidades ou fragilidades deste frente aos possíveis usos.

Dependendo do nível de detalhamento, o levantamento dos solos constitui-se numa ferramenta útil para diversas ações, tanto na área rural como na área periurbana. Sobretudo, além de esclarecer o potencial de uso agrícola, torna-se preponderante para subsidiar as decisões quanto ao crédito agrícola, construção de estradas, expansão de centros urbanos, depósitos de resíduos, mineração, construção civil, bem como projeção de desastres naturais, entre outros.

 

O levantamento de solos tem por objetivo diagnosticar os atributos do solo e espacializar sua distribuição por meio de mapas

Por outro lado, como os levantamentos possuem muitos dados interativos com outras temáticas, como geologia, geomorfologia, vegetação etc, subsidiam políticas públicas voltadas para a recuperação/conservação/preservação dos recursos naturais.

Dada a importância desse tema, o NEPAR-SBCS traz nesta matéria a visão do levantamento atual que está sendo executado desde 2018 pela Embrapa Florestas e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) na Bacia Hidrográfica Paraná III e parte da Bacia Hidrográfica Piquiri (em torno de 9.400 Km2), pesquisa patrocinada pela Embrapa, Governo do Estado do Paraná e Itaipu Binacional.

O levantamento vai além do quesito solo, pois, concomitantemente, ocorre o levantamento/mapeamento da vegetação fluvial das bacias citadas na escala 1:10.000. Esta pesquisa vem sendo executada em rios e cabeceiras de drenagens por meio de parcelas fitossociológicas distribuídas de forma equitativa em toda a área. Nestas, os componentes arbóreo e epifítico estão sendo identificados, caracterizados e classificados, a fim de obter o conhecimento da riqueza florística e respectivas funcionalidades ecológicas, inclusive o barramento de sedimentos provenientes da encosta. Evidentemente que a união dos dois levantamentos favorece, de forma robusta, a discussão e o planejamento relativo à segurança hídrica.

No Paraná, o levantamento de solos realizado pela Embrapa/Iapar de 1984, em escala de reconhecimento, foi realizado por meio de uma abordagem ampla. Só para ter uma ideia, os mapas foram gerados na escala 1:600.000, o que incorre em uma oferta de informações limitadas, sobretudo, no que se refere à delimitação das unidades de mapeamento para o produtor rural, considerada a discrepância de escalas – referido mapa e propriedade rural. Nos levantamentos, que estão sendo realizados atualmente no Estado, a escala de trabalho é de 1:50.000. Isso significa que cada centímetro do mapa, representa quinhentos metros de área real, no terreno.

O perfil é a representação bidimensional do solo, onde são descritos atributos morfológicos, identificados horizontes, processos de formação e coletadas amostras para classificação do mesmo

 A carência de informações detalhadas sobre os solos brasileiros levou à criação em 2017 do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos do Brasil, o PronaSolos – âmbito nacional. Este programa tem como objetivo mapear 8,2 milhões de quilômetros quadrados em escalas 1:100 mil, em território nacional.

Além dos mapas de solos e de vegetação acima citados e respectivos documentos técnicos (em elaboração) pelo PronaSolos PR, serão gerados mapas de aptidão agrícola, mapas de geomorfologia e de hidrografia, este já publicado (Rios da Bacia Hidrográfica Paraná III – 1:5.000), com shape disponibilizado no link: http://geoinfo.cnpf.embrapa.br/layers/geonode%3Ahidrografia

“É importante frisar que os levantamentos têm estruturação pedossequencial (do topo até a planície) e de que a quantidade de pontos referenciais (4 pontos por pedossequência) proporcionam uma densidade adequada para obter informações ao nível de microbacia hidrográfica – 1 ponto a cada 2 km2 . Portanto, escalas de detalhe muito superiores ao antigo mapa do estado”, avalia o coordenador do PronaSolos Paraná, pesquisador da Embrapa Florestas, Gustavo Curcio.

Descrição morfológica dos diferentes horizontes do solo, passo fundamental para correlação e classificação de perfis

 

Segundo ele, com a escala antiga tinha-se poucos pontos de coleta e poucos perfis de solos. “Na escala do PronaSolos Paraná (1:50.000) faremos cerca de 5 mil pontos em aproximadamente 10 mil quilômetros quadrados. Então, o levantamento de solos alcança um nível de informação que poderá auxiliar ainda mais os manejos de solos das citadas áreas”, comenta Curcio, esclarecendo que o levantamento abrange várias informações, como declividade, drenagem, profundidade, fertilidade, entre outros itens.

“Antigamente tínhamos em torno de 2 a 3 perfis coletados para aquela área, agora temos próximo a 80 perfis, além de pontos de amostragens extras, próximo a 4.500”, acrescenta. Os perfis descritos, quando possível, têm profundidades superiores a 1,5 m, condição que possibilita o perfeito conhecimento da “profundidade agrícola”.

Para que se tenha ideia, aproximadamente, na escala 1:50.000, a área para que uma unidade de solo seja representada no mapa é de 10 a 15 hectares, dependendo da forma, permitindo detalhar a variação do solo em nível de microbacia (dependendo do tamanho) e em casos, até mesmo propriedades rurais.

O coordenador do PronaSolos Paraná reforça a necessidade de conhecer melhor os solos e a vegetação fluvial de forma interativa a fim de facilitar o entendimento funcional das paisagens, além de otimizar a aplicação de práticas agronômicas sustentáveis, favorecendo executar o planejamento de uso das terras por meio de zoneamentos, subsidiando as políticas públicas com maior precisão.

Além disso, no site do projeto PronaSolos PR existe uma série de informações a respeito do andamento do projeto, assim como 45 notas técnicas que podem ser acessadas pelo público no endereço: https://www.agricultura.pr.gov.br/PronasolosPR

Equipe da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Marechal Cândido Rondon, coletando amostras e realizando análises físicas em campo

O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Jairo Calderari de Oliveira Júnior, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, destaca que o levantamento do solo é importante do ponto de vista estratégico para a economia. “É uma ferramenta necessária para o desenvolvimento de um Estado, sendo imprescindível para direcionar as atividades de produção agrícola e preservação ambiental, além de ser importante para propósitos urbanos”, afirma, Calderari.

Segundo o professor, o levantamento é um processo demorado e exige elevado investimento. “É uma ação em que ao final se tem a geração de um mapa, mas existem várias etapas anteriores”. Calderari explica que o levantamento consiste em fazer uma análise profunda do ambiente que vai ser estudado. Além dos dados de campo é necessário fazer coleta de amostras de solo as quais serão analisadas em laboratório e, a partir desse conjunto de dados, campo e laboratório, chega-se a um diagnóstico com definição da classe de solo.

Calderari acrescenta que com os dados do levantamento pode-se estabelecer os potenciais e as limitações do solo. “Esse material vai indicar qual solo é melhor para produção agrícola em larga escala, para agricultura familiar, quais áreas são menos problemáticas para serem aterros industriais, entre várias outras ações”, complementa.

Conhecer bem o solo para preservá-lo

Para contribuir com a Rede Paranaense de Agropesquisa, que tem por finalidade difundir práticas de conservação do solo e da água, professores do Departamento de Geografia da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Marechal Cândido Rondon) trabalharam no levantamento detalhado de solos da Bacia Hidrográfica selecionada no Projeto da Mesorregião Oeste – Toledo – PR.

Conduzido pela professora Márcia Regina Calegari, o estudo é uma importante ferramenta para o planejamento do uso dos solos, além de ajudar a entender a dinâmica dos processos erosivos. “Os levantamentos do solo são feitos ao longo de vertentes da bacia hidrográfica, onde buscamos conhecer quais são os solos e seus estágios de evolução; como se distribuem na paisagem e, por fim, como podem nos ajudar a compreender as relações sociais, socioeconômicas e sociopolíticas que permeiam a geografia”, afirma Márcia Calegari.

O grupo executou um levantamento detalhado, mostrando onde estão os pontos de maior potencialidade de perda de solo, e, consequentemente, pontos críticos de erosão. “Este levantamento mostrou os focos erosivos e as áreas de maior risco de erosão naquela bacia estudada”, acrescenta Márcia Calegari.

Foto 5 – Pedocomparador com amostras de diferentes horizontes de diferentes classes de solos da região de Curitiba.

A professora destaca que na Geografia o levantamento do solo não é realizado apenas com o intuito de mapear o solo, mas compreender a distribuição dele no espaço e no tempo e as relações com o relevo e com a paisagem natural e cultural. “Quando fazemos o mapeamento, estamos entendendo toda a história do solo. E, quanto mais a gente conhece o solo, melhor fazemos o uso dele”, avalia Márcia Calegari.

 

Desafios para a humanidade

De acordo com o professor Jairo Calderari, o cenário atual aponta para diversos desafios para a humanidade. “Para vencer esses desafios, é mandatório um planejamento detalhado e integrado com diversos setores da sociedade, de tal sorte que o levantamento de solos configura como ação estratégica para elaborações de políticas públicas para expansão da área urbana, segurança energética, segurança alimentar, segurança territorial entre outros. Entretanto, para que as políticas públicas possam ter efetividade, os levantamentos de solo precisam ser conduzidos em níveis de grande detalhe e que precisa ser pensado como um investimento que seguramente trará grandes retornos para a sociedade”, conclui o professor Jairo Calderari.

 

Para saber mais sobre o Pronasolos acesse:

https://www.instagram.com/pronasolospr/

 

Créditos das fotos: Jairo Calderari e Márcia Regina Calegari

Matéria: VBcomunicação – Assessoria de Imprensa

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