O Dia Mundial do Solo e os Processos de Salinização e Sodificação no Paraná

O Dia Mundial do Solo e os Processos de Salinização e Sodificação no Paraná

Maria Fernanda Ruas (estagiária, sob supervisão de Léa Medeiros)

O Dia Mundial do Solo, comemorado no dia 05 de dezembro, foi proposto em 2002, no XXVII Congresso Mundial de Ciência do Solo, realizado na Tailândia, pela Sociedade Internacional de Ciência do Solo (IUSS). A data visa homenagear o rei da Tailândia da época, Bhumibol Adulyadej, pela dedicação do monarca em “promover a ciência do solo, enfatizando a conservação do solo como uma questão ambiental”. A data foi oficializada em 2013, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Todos os anos, a FAO aponta um tema a ser discutido em campanhas em todo o mundo. Em 2021, a campanha busca incentivar a interrupção da salinização e da sodificação do solo.Em seu site, a FAO explica que “o Dia Mundial do Solo 2021 (#WorldSoilDay) e sua campanha ‘Pare a salinização do solo, aumente a produtividade do solo’ visa aumentar a conscientização sobre a importância de manter os ecossistemas saudáveis ​​e o bem-estar humano. Para tanto, a campanha aborda os crescentes desafios no manejo do solo para evitar sua salinização, bem como os desafios para conscientizar e incentivar as sociedades para que melhorem a saúde do solo”.

No mesmo caminho, o Diretor do Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (NEPAR/SBCS), Adriel Ferreira da Fonseca, explica que “é essencial destinar um dia do ano para mostrar a importância do solo para a sociedade. Neste ano, as mais diversas instituições científicas da área de Ciência do Solo convidam pesquisadores, docentes, técnicos e todos os profissionais atuantes direta e indiretamente em solos, para abordar estratégias inerentes ao uso racional deste recurso, evitando a sua salinização”.

Ainda para Adriel, que é professor do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (DESOLO/UEPG), “a salinização é um processo em que sais solúveis se acumulam no meio, decorrente de evapotranspiração intensa, sobretudo em locais áridos ou semiáridos, com drenagem limitada, e/ou irrigação com águas ricas em sais. A salinização também pode ser provocada pelo uso exagerado de fertilizantes salinos. Basicamente, em situação de salinidade elevada, há tendência de ocorrer a saída de água das células das plantas para o meio, afetando a produtividade, e até mesmo, resultando na morte parcial ou total da lavoura. Foi observado, nos últimos anos, salinização de solos de estufas, decorrente do manejo inadequado de fertilizantes salinos e da irrigação”.

No que diz respeito à produtividade, o professor adiciona que a salinização pode tornar o solo improdutivo para a maioria dos cultivos. “Se ocorrer salinização por meio de sais de sódio, há tendência de levar à sodificação, processo em que a reversibilidade é mais difícil, onerosa e até mesmo impraticável”. E continua, explicando: “A sodificação é um processo em que ocorre acúmulo de sais de sódio e de bicarbonato. Basicamente, o bicarbonato tende a reagir com o cálcio e magnésio solúveis, formando compostos mais estáveis, podendo precipitá-los. Por outro lado, há hidrólise do sódio, aumentando o pH. Concomitantemente, ocorre acúmulo gradativo de sódio no meio. Esse acúmulo, sobretudo quando este elemento ultrapassa 15% da capacidade de troca de cátions (CTC), leva à dispersão dos colóides do solo e degradação da sua estrutura”.

Adriel conta ainda que a região da Mesopotâmia já foi, na Idade Antiga, importante centro de produção de alimentos. Todavia, o manejo equivocado dos solos e da irrigação levou à salinização e sodificação do meio. Atualmente a região é um deserto. “Nesse caso, a reversibilidade é praticamente impossível com as tecnologias e recursos financeiros disponíveis”, exemplifica o diretor do Nepar.

Apesar desses processos serem mais comuns em regiões de clima árido e semiárido, Jairo Calderari de Oliveira Junior, agrônomo e professor de Pedologia no Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostra que esses problemas podem ser enfrentados em outras regiões, como o Paraná e o Pantanal.“A salinização tem um efeito mais direto no desenvolvimento das plantas, que pode ocorrer até mesmo em climas onde chove bastante, como é o caso do Paraná, em função do uso indiscriminado de alguns adubos e/ou fertilizantes”.

Ainda para Calderari, a presença de solos salinos no Paraná não é tão grande, porque o estado detém um clima com um volume de chuva relativamente grande. Então, é difícil concentrar sais no solo. “A chuva com volume razoável acaba removendo esses sais, mas isso pode acontecer em algumas áreas do litoral, onde a maresia pode salinizar os solos. Também há relatos de solos salinos no Paraná, onde há a aplicação exagerada de dejetos de animais como fertilizante, como ocorre em algumas regiões polo de criação de gado, de aves e outras espécies. Então, o uso indiscriminado desses dejetos pode promover a salinização do solo”, elucida o professor 

Ele pontua ainda que, no que diz respeito aos solos paranaenses, o principal problema enfrentado é a mecanização intensiva das terras, que pode promover a compactação e, em alguns casos, a remoção de algumas estruturas de conservação, como curvas de nível e terraços. Como consequência, pode haver a aceleração da degradação da terra.

O docente complementa: “nas áreas do semiárido, o pessoal tem tentado algumas alternativas para contornar esse problema de salinidade, mas a grande parte dos manejos que são feitos nessas regiões estão relacionados à irrigação. Então, eles tentam adicionar a água, para que ela, desde que não tenha elevada concentração de sais (conhecida também como água dura), acabe removendo esses sais e retornando o solo a um estado de produção mais próximo do ideal. O problema que a gente tem em algumas áreas é conseguir um volume de água tão grande para promover a dessalinização – que é o processo de remoção de sal”.

Ainda segundo o professor, no Pantanal, o processo de salinização é natural e ocorre principalmente às inundações anuais aportando sais ao solo e também ao fato do volume de chuvas ser menor que o potencial de evapotranspiração (o quanto de água pode ser perdida pela evaporação ou respiração de plantas), tornando ineficiente a remoção de sais do solo.

A conservação do solo é uma pauta de grande relevância a ser levantada, já que a terra é um recurso imprescindível para a produção de alimentos, para a criação de animais, na preservação de ecossistemas, na manutenção de energias renováveis e é parte fundamental no enfrentamento das mudanças climáticas.

No Brasil, um país onde o agronegócio representa aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto (PIB), essa discussão ganha protagonismo, já que, além de grande parte da região Nordeste, esses problemas podem afetar solos litorâneos no geral e territórios que vivem períodos de estiagem, como o Pantanal. 

Por fim, como alternativa aos problemas de salinização e sodificacão enfrentados pelo mundo, o professor Adriel explica: “Há diversas estratégias para mitigar o efeito da salinidade. A Ciência do Solo tem se dedicado ao estudo de alternativas plausíveis, como a recomendação, nos ambientes de maior salinidade, do cultivo de plantas mais tolerantes (salinidade), a irrigação com água de boa qualidade (contendo baixa condutividade elétrica), inclusive, controlando a lixiviação de parte dos sais do perfil do solo e o aumento da matéria orgânica do solo. A recuperação de solo que sofreu sodificação poderá, dependendo da situação, ser feita por meio de aplicação de doses elevadas de sulfato de cálcio e irrigação abundante com água de boa qualidade (pobre em sais e sódio). Todavia, é uma estratégia onerosa”.

Para celebrar o  Dia Mundial do Solo, este ano, a SBCS promove na próxima terça-feira (7), às 19h, uma live sobre o tema proposto pela FAO para este ano. Como convidado especial, o evento conta com a presença do professor Claudivan Lacerda, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Salinidade (INCTSal). O evento será transmitido no canal da SBCS no YouTube (sbcs.solos) e é gratuito.

 

Mais informações sobre o Dia Mundial do Solo podem ser encontradas no site: https://www.fao.org/world-soil-day/en

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