Livro “Manejo e conservação de solo e água: Formação, implantação e metodologias”, da Rede de Agropesquisa, é referência para a agropecuária do Paraná e teve contribuição do NEPAR-SBCS

A criação da Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada teve a contribuição do Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (NEPAR-SBCS), que reúne os profissionais e as instituições que trabalham com Ciência do Solo no Estado do Paraná. A missão do NEPAR é contribuir com  o avanço da Ciência do Solo integrando profissionais e instituições de pesquisa, ensino, extensão e assistência técnica ligadas a atividades agropecuárias, buscando o uso, manejo e conservação adequados do solo e da água nos ambientes rural e urbano, com foco na sustentabilidade.

A participação do NEPAR na criação da Rede e a atuação de vários de seus associados, de diferentes instituições públicas e privadas, demonstram a importância da organização coletiva para encontrar soluções que conciliem a produção de alimentos com a conservação ambiental, beneficiando toda a população.

Desta forma, a criação da Rede de Agropesquisa e Formação Aplicada atende a uma demanda do Núcleo Estadual Paraná da Ciência do Solo (NEPAR-SBCS) que, desde o seu início, valoriza a importância de políticas públicas para enfrentar os problemas de conservação de solo e água dos produtores rurais no Paraná. Criada em 2017, a Rede reúne profissionais da Ciência do Solo de diferentes instituições e áreas do conhecimento, que monitoram o processo erosivo  e desenvolvem estratégias para preservar o solo e a água com vistas à sustentabilidade da agricultura.

Para executar a pesquisa, a Rede de Agropesquisa selecionou seis mesorregiões no Paraná, que abrangem diferentes tipos de solo, clima, relevo e culturas agrícolas, sendo elas: Campos Gerais – Ponta Grossa, Coordenadora: Profa. Neyde Giarola (UEPG)); Centro Sul – Guarapuava, Coordenador: Prof. Cristiano André Pott (UNICENTRO);  Sudoeste – Dois Vizinhos, Coordenador Prof. André Pelegrini (UTFPR); Norte – Cambé, e  Oeste – Toledo, Coordenadora: Dra. Graziela Moraes de Cesare Barbosa (IDR-PR); e Noroeste – Presidente Castelo Branco e Cianorte, Coordenador: Prof. Edison Schmidt Filho (UNICESUMAR).

A escolha dos locais de estudo  visa abranger a diversidade edafoclimática estadual e as particularidades   mesorregionais ligadas ao clima, com o objetivo de melhor entender os fatores que influenciam o processo erosivo para efetivamente recomendar melhores práticas de uso e manejo do solo com vista na sustentabilidade dos sistemas produtivos.

“Esse projeto é uma iniciativa pioneira que abrange várias regiões do Paraná, e seu objetivo é gerar dados e fornecer resultados que possam ser relevantes não apenas para a região em que está localizada a macroparcela de estudo, mas para todo o Paraná. A partir da experiência do Paraná, este modelo de pesquisa em rede também tem sido aplicado com sucesso em outras instituições e estados que realizam monitoramento ”, explica a Coordenadora da Rede de Agropesquisa, Graziela Moraes de Cesare Barbosa, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná).

Megaparcelas instaladas nas mesorregiões com maior potencial de perdas de solo

Recentemente, a Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada, lançou o  livro “Manejo e conservação de solo e água: formação, implantação e metodologias”,  uma obra de referência para a agropecuária do Paraná, cujos editores são Graziela Moraes de Cesare Barbosa e André Pellegrini, professor da Universidade Tecnológica Federal, Câmpus Dois Vizinhos.

Este primeiro livro, com nove capítulos, escritos por 48 autores,  mostra como a rede foi formada e implantada, além de explicar como foram selecionadas as áreas de estudo, quais foram os critérios e as metodologias utilizados para o monitoramento hidrossedimentólogico (instrumentos e as técnicas empregadas para monitorar os eventos de chuva com medições de vários parâmetros entre eles a perda de água e de solo), avaliação da qualidade física, química e biológica do solo e avaliação da qualidade da água.

“O livro também mostra alguns dados preliminares sobre o volume e a qualidade do escoamento superficial e da perda de solo em cada área, que serão analisados com mais profundidade no próximo volume”, explica Graziela.

Calhas em áreas experimentais

O segundo livro, que está em andamento e deverá ser lançado em 2024, trará resultados concretos do monitoramento, incluindo informações sobre perdas de solo, de água,  de nutrientes e qualidade do solo, entre outros parâmetros. “Isso será essencial para avaliar os resultados e tendências ao longo do tempo”, acrescenta a pesquisadora.

A proposta do livro, segundo Graziela, é divulgar o conhecimento gerado pela rede de Agropesquisa e sensibilizar os produtores rurais para a importância de adotar um manejo adequado do solo, que respeite os princípios do sistema de plantio direto e que incorpore medidas de conservação do solo e da água.

Na história do NEPAR, desde sua criação em 2007, tiveram 5 diretores, dentre eles Arnaldo Colozzi, pesquisador do IDR-PR e diretor no período de 2011 – 2017, estando à frente da criação da Rede representando o coletivo da Ciência do Solo Paranaense. Colozzi, que atualmente também é integrante da Rede,  reforça a importância do projeto que surgiu da necessidade de enfrentar os desafios ambientais do Paraná, especialmente a erosão do solo. “A partir do NEPAR, foi proposta a criação de uma Rede que integrasse as diversas instituições e pesquisadores envolvidos com o manejo e a conservação do solo e da água. Assim, nasceu a Rede, que tem como foco principal o monitoramento do processo erosivo em todo o estado”, acrescentou ele.

A professora da UTFPR- Pato Branco, Nilvania de Mello, atual diretora do NEPAR, reforça a importância da organização coletiva dos profissionais da Ciência do Solo para efetivamente conquistar espaços nas diferentes áreas de atuação. Nilvania enfatiza que uma das finalidades do NEPAR é contribuir com a análise de políticas públicas nas várias esferas, dentre elas, pesquisa e extensão ajustando aos interesses do desenvolvimento sustentável da agropecuária. “A participação do NEPAR na criação da Rede Agropesquisa demonstra uma atuação efetiva para alcançar seus objetivos”, salienta.

Processos erosivos na região Oeste do Paraná

O retorno da erosão

Por alguns anos o Paraná conseguiu equacionar o problema da erosão no estado com a adoção do Sistema Plantio Direto (SPD) e execução de terraceamento, uma das  práticas preconizadas para o combate à erosão com o propósito de controlar o volume de escoamento superficial da água. Porém, nas duas últimas décadas, o uso inadequado ou parcial do SPD no estado, principalmente no que se refere à produção insuficiente de palhada pela adoção de sistemas de produção pouco diversificados, bem como a remoção dos terraços, favoreceram o retorno do processo erosivo.

Para a pesquisadora Graziela Moraes de Cesare Barbosa, com a adoção do SPD, surgiu a crença de que os terraços poderiam ser removidos, uma vez que a cobertura com palhada  protege o solo. “Os agricultores começaram a remover os terraços com a falsa ideia de que a palhada poderia conter erosão. No entanto, nossos dados já demonstraram que mesmo as áreas com terraços, controlam parcialmente a perda de solo, porém não controlam a perda de água ”, disse.

A professora Nilvania de Mello complementa que o simples entendimento das fases que caracterizam o processo erosivo já permite deduzir que a presença da palha pode conter apenas a desagregação do solo, mas não o escoamento da água.

Para o pesquisador Arnaldo Colozzi,  os terraços são de extrema importância para o sistema como um todo. Na verdade, os terraços contribuem com a integração das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo quando retém água no sistema, consequentemente favorecendo o desenvolvimento das plantas. No entanto, muitos agricultores têm negligenciado a importância dos terraços, lamenta Colozzi.

“Uma das propostas deste projeto é reabilitar os terraços, não apenas como medida de proteção contra a erosão, mas também para manter condições ambientais mais favoráveis para o cultivo na área como um todo”, acrescenta o pesquisador.

Megaparcelas localizadas no Norte do Paraná

A coordenadora da Rede de Agropesquisa, Graziela Barbosa, observa que uma das principais conclusões desta primeira etapa do projeto demonstra a necessidade de melhorar o manejo do solo, especialmente no que diz respeito ao SPD. “O mínimo revolvimento do solo, a rotação de culturas e a manutenção da cobertura do solo com palhada são consideradas práticas importantes para reduzir a erosão”, destaca.

A professora Nilvania ressalta que os três pilares do Sistema Plantio Direto são fundamentais, mas não substituem a função que é realizada pelas práticas mecânicas de conservação do solo, categoria na qual se encontram os terraços. “Sempre enfatizo que a cobertura do solo, a palha e o uso de técnicas que auxiliam na manutenção da qualidade do perfil de solo são importantes. Mas em eventos extremos, aquelas chuvas mais intensas, que têm se tornado cada vez mais frequentes, apenas estruturas mecânicas como os terraços são capazes de impedir o escoamento livre da água sobre o solo.

A pesquisadora Graziela Moraes lembra ainda que as condições climáticas, como a temperatura, afetam a deterioração da palha e a eficácia das práticas de manejo do solo. Regiões mais quentes tendem a ter menor cobertura devido à rápida decomposição da palhada, como Norte e Noroeste do Estado. Já as regiões, como os Campos Gerais, onde o inverno é mais rigoroso e impede o plantio de milho em segunda safra, há uma maior rotação de culturas de inverno como trigo, aveia, cevada e triticale, o que favorece o sistema porque produz mais palhada. “Se feito adequadamente, obedecendo os fundamentos de revolvimento mínimo do solo, da cobertura do solo com palhada e a rotação de culturas, o SPD é  eficiente no combate à perda de solo”.

Uma das dificuldades enfrentadas, segundo os pesquisadores,  é convencer os agricultores a adotarem a rotação de culturas, uma prática que exige a alternância de culturas no mesmo ano agrícola, com culturas adequadas para cada região. O objetivo é encontrar alternativas interessantes para os agricultores, incluindo suporte técnico, para que as rotações de culturas se integrem efetivamente ao sistema de produção e sejam economicamente rentáveis.

No passado, a rotação de culturas era vista principalmente como uma medida de cobertura do solo, mas agora o foco é criar sistemas de produção que sejam rentáveis. “O desafio é complexo, pois depende de diversos fatores, como variedades de culturas comerciais e condições regionais, mas a equipe está trabalhando nessa direção para ampliar as possibilidades regionalmente”, destaca o pesquisador Arnaldo Colozzi.

O trabalho de pesquisa para a elaboração do livro envolve 19 instituições participantes como universidades estaduais, federais e particulares, cooperativas, institutos de pesquisa públicos e privados,  formando um coletivo de 105 pesquisadores, 10 bolsistas de pós-doutorado, 21 doutorandos, 56 mestrandos, 115 bolsistas de iniciação científica e 61 bolsistas de apoio técnico.

Instrumentos e técnicas para monitorar os eventos de chuva

Para a execução das pesquisas, a Rede contou com três patrocinadores: o Sistema FAEP/SENAR-PR, que investiu R$ 6 milhões, e a Fundação Araucária e Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), que, somados, destinaram o mesmo valor. A Itaipu Binacional também participou com recursos financeiros para os estudos implantados nas regiões oeste e norte do Paraná, juntamente com o IDR-Paraná, que foram as duas primeiras bacias iniciadas neste estudo.

Acesse o livro através dos links abaixo:

Crédito Fotos: IDR-Paraná e Rede Agropesquisa

VB Comunicação