ESPECIAL TERRA FÉRTIL – Prejuízos causados pelo mau uso do solo

ESPECIAL TERRA FÉRTIL – Prejuízos causados pelo mau uso do solo

Propriedade que teve quase toda a área comprometida se recuperou com reforma de pastagens aliada a rotação com grãos. Dados da FAO mostram que ao menos 28% do solo do país está degradado.

Uma propriedade em Uberlândia, Minas Gerais, que já teve quase 100% da área degradada, transformou-se numa referência em manejo do solo, após um trabalho de recuperação que já dura mais de três décadas. A mudança é resultado do investimento na integração lavourapecuária, sistema que beneficia o solo e aumenta a rentabilidade da área.

O produtor rural Fernando Rauscher, proprietário da fazenda, conta que reforma as pastagens a cada cinco anos, quando as gramíneas dão lugar à soja e ao milho. Segundo ele, a produção de soja exige um pacote tecnológico rígido, que envolve a correção do solo. “Quando você volta com a pastagem depois de nãos de lavoura, ela se beneficia desses nutrientes”, diz.

Hoje, a capacidade de suporte das pastagens da fazenda é de três animais por hectare por ano, o triplo da média nacional. Os bezerros resultantes de cruzamento industrial são desmamados com 290 kg; os da raça nelore, com 270 kg. As lavouras apresentam maior produtividade.

Rauscher afirma ter usado o dinheiro obtido na desmama para pagar adubos defensivos, em meados de maio. Nesse mês e nos dois seguintes, o gado também ajudou a sustentar a propriedade. Agora, no final do ano, é a agricultura quem paga as contas.

Solos no Brasil

A falta e dados consistentes dificulta uma análise mais profunda da real situação dos solos brasileiros. O último levantamento foi realizado em 2008, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Os números mostram que pelo menos 28% dos solos no país estão degradados ou em estado avançado de degradação, o que representa uma área de cerca de 60 milhões de hectares de pastagens.

Solo degradado é aquele que tem comprometida pelo menos parte de suas funções na produção de alimentos, energia, fibras, florestas ou animais, de acordo com o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Ciência de Solo (SBCS), Reinaldo Cantarutti.

As diferenças entre regiões, climas e relevos influenciam nos processos erosivos e na formação do solo. No Brasil, a classe que predomina é a dos Latossolos, que apresentam baixa fertilidade e camadas profundas, com estrutura física favorável à agricultura de alta tecnificação.

Prejuízos

O país produz cerca de 45 kg de carne por hectares. Porém, de acordo com a Embrapa Solos, a recuperação de áreas degradadas poderia triplicar a produção e evitar anualmente a emissão de 30 milhões de CO2 na atmosfera.

“Quando um animal pasteja em uma área degradada, produz de três a quatro vezes mais CH4, que é o metano e que tem um poder 28 maior do que o CO2 para promover o efeito estufa”, afirma o especialista em manejo de solo Elias Nascentes Borges.

Na agricultura, os impactos também são grandes. Um estudo realizado pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em parceira com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mostra que o Brasil perde todos os anos cerca de 617 milhões de toneladas de terras em lavouras anuais por conta da erosão provocada pela chuva.

Isso geraria um custo em lavouras anuais superior a US$ 1,8 bilhão por ano, segundo o pesquisador do Iapar Tiago Telles. “Estados que têm mais incidência de erosão são aqueles que têm uma produção agrícola mais intensa, como Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais”, afirma.

Os custos se referem à perda de nutrientes, como fosforo, potássio, cálcio e magnésio. No preparo de solo em sistemas convencionais, o prejuízo pode ser de US$ 70 por hectare. Por outro lado, em sistemas conservacionistas como o plantio direto, onde há a rotação de cultura e manutenção permanente de resíduos, há maior proteção ao solo e redução do impacto das gotas de chuva, gerando menos erosão, diz Telles.

Especialistas afirmam que o país ainda necessita de ações públicas que valorizem o solo brasileiro e evitem maior degradação em novas áreas. Para Reinaldo Cantarutti, da SBCS, o Brasil tem soluções técnicas para contornar os problemas, mas ainda carece de decisão política para definir instrumentos reguladores do uso e conservação do solo.

Fonte: Canal Rural

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