Projeto de pesquisa visa promover o crescimento das plantas através de micro-organismos, substituindo uso de produtos químicos

Inoculantes e tecnologias tem previsão para o mercado para daqui dois anos

Para promover a agricultura e a sustentabilidade ambiental, além de permitir o avanço científico para o entendimento das interações benéficas dos micro-organismos para as plantas, foi elaborado o projeto “Micro-organismos promotores do crescimento de plantas visando a sustentabilidade agrícola e responsabilidade ambiental” coordenado pela pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela Hungria da Cunha, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

 A proposta foi selecionada na Chamada INCT – MCTI/CNPq/CAPES/FAPs nº 16/2014 criado para apoiar atividades de pesquisa de alto impacto científico em áreas estratégicas, através de seleção de propostas para apoio financeiro a projetos voltados à consolidação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. Ao todo foram selecionados somente 100 projetos de diversas áreas no campo da ciência. “Ficamos contentes que nosso projeto foi aceito e selecionado para compor um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT)”, comenta a coordenadora do projeto, comenta Mariangela.

“Nossa proposta abrange desde aspectos bastante básicos [da microbiologia] como genoma, [seleção] de micro-organismos até o lançamento de novos produtos inoculantes”, revela a cientista. Esses produtos contêm micro-organismos com ação benéfica para o desenvolvimento das plantas, capazes de fixar o nitrogênio do ar ou de produzir vários hormônios, aumentando o crescimento das raízes. Isso facilita a absorção de mais nutrientes pelas plantas, ou mesmo pode estimular no solo bactérias que atuam em outros mecanismos, como por exemplo, aumentar a resistência sistêmica da planta. “São vários micro-organismos que de um modo ou de outro promovem o crescimento das plantas”.

A pesquisadora também explica que esses micro-organismos podem ser usados em substituição parcial ou total de fertilizantes fosfatados ou nitrogenados. Esse meio alternativo revela uma via mais sustentável para o meio ambiente, principalmente em se tratando dos cultivos como a soja e o milho – que tem segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) safras recordes na temporada de 2016/17 em ambas das culturas.

“Hoje quem usa mais micro-organismos é a cultura da soja e em segundo lugar do milho, mas vários desses micro-organismos podem ser usados para diversas culturas como o trigo (…), e também tem a previsão de lançamentos de bactérias para a cultura do amendoim. Então juntamente com esse grupo maior (Embrapa Soja) e das várias regiões, a gente pretende ter mais gente trabalhando para ter mais cultura sendo atendida pelos micro-organismos”.

Estão envolvidas no projeto 11 unidades da Embrapa, Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), oito universidades públicas, parceiros privados e setor empresarial. É financiado, de acordo com a pesquisadora, por duas instituições, CNPq e Fundação Araucária, com duração de seis anos. Mariangela afirma também que há previsão de lançamento de novos produtos e tecnologias para o mercado para que mantenha o fluxo continuo para a contribuição da sustentabilidade agrícola.

Segundo Mariangela, atualmente, existem vários projetos em andamento, porém todos irão se encaixar nesse novo INCT, seja de diversas instituições, para que a partir dele surjam novos subprojetos e novas fontes de financiamento para complementar a condução do grande projeto. A principal barreira para a pesquisa científica, afirma a pesquisadora, é a escassez de dinheiro. “A gente tem e continua tendo uma ótima formação de recursos humanos, com pessoas capacitadas. O que falta realmente são recursos para modernizar o laboratório, para comprar novos equipamentos, para permitir que grupos novos tenham laboratórios para continuar fazendo pesquisa de ponta”.

A cientista acredita também que irá crescer a utilização dos micro-organismos nos próximos anos pelo seu lado ambiental e sustentável na agricultura. “Estamos sentindo uma maior sensibilização por parte dos agricultores e da sociedade em geral para o uso de micro-organismos”.

A cientista

mariangela hungria

A soja só pôde ser exportada a um preço competitivo graças à FBN, tornando o Brasil o segundo maior produtor mundial do grão

Mariangela Hungria da Cunha, sócia do Núcleo Estadual Paraná – NEPAR da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, se destacou pelo trabalho em Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) com a soja, recebendo em 2008, o título de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República pela contribuição na área de Ciências Agrárias. Em 2010 recebeu o troféu Glaci Zancan Mulheres de Ciência do Paraná e o prêmio Honorary Scientist & Advisor on Agricultural Green Technology do Rural Development Administration (RDA), da República da Coreia. Em 2012, recebeu o prêmio Frederico de Menezes Veiga, Embrapa, sobre o tema de “A Agricultura na Economia de Baixa Emissão de Carbono”, sobre seus trabalhos em fixação biológica do nitrogênio e em 2015, o Prêmio Cláudia na categoria Ciência.

Realizou mais de 150 estudos sobre o tema em todas as regiões do Brasil, lançando mais de 20 tecnologias relacionadas à FBN com a soja, com implicações diretas na melhoria da qualidade dos inoculantes, no processo de inoculação, na legislação brasileira e no desempenho simbiótico.

Graduou-se em Engenharia Agronômica na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), na cidade de Piracicaba (SP) e mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (USP – ESALQ), doutorado em Agronomia (UFRRJ) e pós-graduação em três universidades: Cornell University, University of California e Universidade de Sevilla.

Alanis Hitomi I. Brito
Estagiária de Jornalismo

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