O que a mãe natureza nos ensina sobre solo?

Incremento de matéria orgânica, bioindicadores para avaliar a qualidade do solo e manejo químico estão entre as alternativas apresentadas pelos pesquisadores em evento de solo em Maringá

Fertilidade do solo, incremento de matéria orgânica, manejo sustentável em solos arenosos foram os assuntos abordados nas palestras proferidas pelos pesquisadores João Carlos de Moraes Sá, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ieda de Carvalho Mendes, da Embrapa Cerrados Brasília, Leandro Zancanaro, da Fundação Mato Grosso. Seguidas de debates, as palestras marcaram o primeiro dia V Reunião Paranaense da Ciência do Solo e II Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos, no Excellence Centro de Eventos de Maringá (PR).

O que a mãe natureza nos ensina sobre solo? Com essa pergunta, o professor João Carlos de Moraes Sá, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) iniciou sua palestra “Estratégias de incremento da matéria orgânica de solos arenosos”.

“Ela nos ensina que, primeiro, você não precisa adubar uma floresta ou controlar ervas daninhas e pragas. Numa floresta você tem um solo em equilíbrio. E é isso que nós temos que trazer para agricultura”, afirmou. Segundo Sá, quando convertemos uma área de vegetação nativa para uma área agrícola, rompemos todo esse equilíbrio.

“Nós reduzimos acentuadamente a matéria orgânica, que é o principal agente gerador de cargas para reter cátions como cálcio, magnésio e potássio. São eles que dão suporte ao crescimento da planta”, enfatiza Sá, acrescentando que o principal desafio nesses solos, em especial aos arenosos, é gerar carga negativa para promover aumento da CTC (capacidade de troca de cátions) para reter cálcio, magnésio e potássio e, recuperar desta forma, uma nova estrutura.

“Para isso temos que pensar completamente diferente. Temos que tapar todas as janelas entre colheita e plantio, ou seja, manter cobertura viva ou morta, ou ambas, o ano inteiro. Somente assim você proporciona o funcionamento do solo, gerando um processo de reorganização dessa nova estrutura que vai recuperar a matéria orgânica”, explica o professor da UEPG.

Para ele, outro desafio nesses solos é manejar a matéria orgânica, componente chave que controla inúmeros atributos, sejam químicos, físicos e biológicos. Mas como começar fazer isso?

Primeiro, afirma o professor, é preciso aumentar o aporte de culturas que produzem muita palha e que tenham um sistema radicular robusto e ainda saber misturar essas culturas que dão suporte, para dar possibilidade às culturas rentáveis de manifestar seu potencial. “É quase um sistema de reinado. A rainha não faz nada e só recebe. Se a soja é a rainha, os súditos serão sorgo, milho, mileto, braquiária entre outros que vão trabalhar para dar suporte à rainha de se expressar”, compara.

Bioindicadores

A pesquisadora Ieda de Carvalho Mendes, da Embrapa Cerrados Brasília, abordou na palestra o uso de bioindicadores pra avaliar a qualidade dos solos, em especial os arenosos. A ideia, segundo ela, é colocar esses bioindicadores nas rotinas de solo do Brasil.

“Muitas coisas que acontecem em relação ao funcionamento do solo não detectamos com as análises de rotina de nutrientes de matéria orgânica, mas com o uso de bioindicadores isso é possível, pois são mais sensíveis”, diz Ieda, acrescentando que desta forma se consegue avaliar e detectar com muito mais antecedência se o manejo que está sendo usado em determinada área, está melhorando a saúde do solo ou se está degradando.

Isso, segundo pesquisadora, é muito mais importante ainda em solos arenosos, que têm baixa matéria orgânica. “Se perdemos esta pouca matéria orgânica que temos, estamos condenando estes solos à desertificação”, complementa.

O fato da matéria orgânica ser muito baixa nesses solos a atividade biológica também é baixa. “Se pensarmos em utilizar os bioindicadores em nível de rotina, vamos ter uma margem de manobra menor, mas mesmo assim é muito eficiente para avaliar a qualidade e saúde do solo”, revela

De acordo com a pesquisadora, o Brasil tem tudo pra ser um pioneiro nessas análises, até porque foi o primeiro a desenvolvemos as tabelas de interpretação dos bioindicadores. “Isso era uma grande limitação que tínhamos, mas já demos um grande passo ao saber interpretar as tabelas”, conclui.

Fertilidade de solos arenosos

Na palestra sobre “Manejo químico e atributos de fertilidade de solos arenosos”, o pesquisador Leandro Zancanaro, da Fundação Mato Grosso, explica que o uso da química não consegue sozinho garantir a capacidade produtiva do solo. “O que define a fertilidade do solo é a capacidade de produzir. Temos que associar hoje uma qualidade biológica no sistema, porque a questão da fertilidade não pode ser corrigida só pelo químico. Temos áreas quimicamente corrigidas, mas isto não é suficiente. São necessárias outras práticas, como alternância de culturas, de raiz, cobertura vegetal, ou seja, uma diversidade de culturas para proporcionar uma diversidade de organismo e assim conseguir maior eficiência do uso dos nutrientes da parte química” , salienta.

A sugestão, em princípio, diz Zancanaro, é começar a fazer um sistema mais diversificado, para ter eficiência inclusive sobre o que já se aplicou ou está se aplicando na propriedade. “É natural que o ser humano tente corrigir mais pelo uso de insumos. Muitas vezes o produtor está perdendo e por isso investe mais para tentar recuperar, mas isso sozinho não resolve. Esse tipo de manejo não se compra, se faz e, mais, precisa de tempo e persistência. Hoje temos pesquisa e podemos melhorar o manejo, mas ainda há resistência por parte do agricultor por ser uma nova maneira de ver a agricultura”.

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