Plantio direto, rotação de culturas e integração entre atividades na mesma área ajudam na conservação da fertilidade do terreno e a elevar a produtividade.
O plantio direto, desenvolvido nos anos 1970, revolucionou a agricultura brasileira. Combinada posteriormente com a rotação de culturas, a técnica ampliou ganhos de produtividade. Mais recentemente, ela evoluiu para o sistema de integração lavoura-pecuária, sedimentando a estratégia de elevar a qualidade do solo para aumentar a lucratividade da área e garantir o futuro da produção.
O pioneiro do plantio direto Herbert Bartz foi buscar no cultivo sem preparo da terra a solução para contornar a erosão em sua propriedade em Rolândia (PR). Ele explica que a técnica “copia” o que a natureza faz, mantendo a palha da cultura anterior no solo, retirando o que interessa na colheita.
Bartz procurou nos Estados Unidos e Europa o conhecimento sobre a saúde do solo e sobre uma agricultura sustentável e menos agressiva, chegando a importar maquinário para implementar a técnica por aqui.
A ousadia do precursor atraiu a atenção de outros agricultores que em pouco tempo aderiram ao sistema de plantio direto. Uma outra propriedade de Rolândia, de 500 hectares, é considerada referência nacional em sustentabilidade e produtividade há mais de 30 anos.
Com solo bem estruturado e alta fertilidade, a fazenda apresenta produtividade excepcional até hoje. O milho segunda safra, por exemplo, teve rendimento de 10 toneladas por hectare. “Isso prova que o sistema é sustentável e que dá às nossas futuras gerações a possibilidade de continuar no sistema”, afirma o engenheiro agrônomo e agricultor Johann Bartz, filho do pioneiro.
Ele conta que a propriedade adota boa tecnologia, com alta produção de palhada e solo bem corrigido. Com isso, a terra é capaz de absorver um eventual excesso de água, como ocorreu em novembro, quando a chuva chegou perto de 500 mm. Segundo o agrônomo, o plantio direto também é eficaz quando há falta de chuva.
Valdemiro Kopp, amigo de Herbert Bartz há 40 anos, também está entre os pioneiros na aplicação da técnica. Segundo ele, não é mais possível pensar em voltar ao plantio convencional. “Para mim, o plantio direto foi a maior evolução que o Brasil sofreu. Ficou mais fácil (produzir), mais seguro, mais produtivo, tudo melhor”, diz.
Segundo, Bartz, os agricultores do Brasil não teriam conseguido chegar à marca de cinco colheitas em dois anos sem essa técnica. “No resto do mundo, não existe um exemplo igual a esse”, afirma.
Rotação
O agricultor João Agnaldo Temeleri, de Londrina (PR), combinou o plantio direto com a rotação no cultivo de soja, milho e trigo. Com isso, tem elevado a qualidade do solo em uma área de 1250 hectares, ao mesmo tempo em que obtém maior produtividade a cada safra. Em um ano onde aparece o fenômeno El Niño, a estratégia funciona como um seguro natural para o produtor.
Temeleri afirma que, sem a boa conservação do solo, as chuvas em períodos como esse provocariam erosão e carregariam todo o adubo e a matéria orgânica da área.
O Paraná se mantém como referência em manejo do solo. Mas, de acordo com o pesquisador da Embrapa José Renato Bouças Farias, essa característica já não é tão marcante quanto no passado. Segundo ele, com a valorização da terra e a necessidade de ocupar novos espaços, muitas vezes marginais, o produtor se preocupa mais com sua receita do que com a adoção de práticas de conservação do solo.
Farias afirma que tem observado em muitas regiões o abandono de práticas como formação de terraços, curvas de nível e de retenção em plantios de soja e milho. “Isso prejudica o manejo adequado do solo, a conservação e o armazenamento de água. Com certeza vai refletir em problemas para exploração agrícola futura”, diz o pesquisador.
Lavoura-pecuária
Outra grande aposta da pesquisa agropecuária brasileira é a integração lavoura-pecuária. A prática é considerada uma evolução do sistema de plantio direto, porém ainda mais rentável. Para o diretor do núcleo paranaense da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), Arnaldo Colozzi Filho, um sistema de produção precisa trabalhar conjuntamente diversos fatores. Essa seria a razão pela qual a integração lavoura-pecuária, quando bem compreendida e aplicada, é uma boa alternativa ao agricultor. O diretor afirma que a presença de animais cria uma nova dinâmica no fluxo de nutrientes numa área, tornando o sistema mais sustentável.
Além disso, a integração lavoura-pecuária diversifica a renda da propriedade, lembra o pesquisador da área de manejo do solo da Embrapa Julio Franchini. Segundo ele, a integração dessas atividades com a produção florestal também é importante, mas a tecnologia ainda estaria em uma fase de desenvolvimento.
Franchini afirma que já há exemplo de produtores que adotam com sucesso a técnica, adequada principalmente para áreas mais frágeis. Colocando-se árvores nesse ambiente, diz ele, elas poderão trazer retorno econômico e conforto aos animais.
Fonte: Canal Rural