Programa Solo na Escola abre portas para discussão do tema na educação básica

Falar da importância do solo para crianças e jovens é essencial para conscientizar a conservação do meio ambiente

O termo solo, não se limita apenas a terra ou a uma superfície sólida na qual pisamos. Segundo o professor do Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Programa de Extensão Universitária Solo na Escola/UFPR, Marcelo Ricardo de Lima, esse senso comum é resultado da falta de percepção e informação de que o solo é algo sujo e morto. Juntamente com o ar, água e energia solar, o solo é um dos grandes responsáveis pela existência de vida na Terra, porém mesmo com um papel relevante, sofre progressivamente com a degradação – processo pelo qual o solo vai se esgotando, ou seja, perdendo seus nutrientes devido a usos e práticas inadequadas. Esse processo ainda pode ocorrer de diversas maneiras, tanto por fatores naturais quanto pela ação do homem.

O Programa Solo na Escola/UFPR é coordenado pelo Departamento de Solos e Engenharia Agrícola (DSEA) da UFPR, com participação de alunos de vários cursos de graduação. Atualmente conta com 10 bolsistas de extensão que trabalham de forma mais direta com o programa, além da colaboração de profissionais de outras instituições parceiras, como o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Secretaria Estadual de Educação e Secretaria Municipal de Educação.

A ideia de criar um programa que aborda o tema de ciência do solo em escolas, surgiu da construção descontextualizada de como o termo era tratado nos materiais didáticos do ensino básico, na forma de associar a palavra solo a algo com muita matéria orgânica ou a alta fertilidade. “O solo parece que é uma coisa muito longe, muito distante. Não tem nada a ver com a realidade”, diz Marcelo. Iniciou em 2002, e já no ano seguinte foi implantada a Exposição Didática de Solos, a qual foi aberta à comunidade interna e externa da universidade. Essa exposição recebe cerca de 2.500 pessoas por ano, além de 1.500 professores que já participaram da Formação Inicial e Continuada em Solos para Educadores de diferentes escolas de Curitiba, região metropolitana e litoral do Paraná. “Nos últimos quatro anos, a gente sempre tem aumentado em torno de 500 visitantes por ano aqui na exposição didática”, cita o coordenador do programa.

O objetivo geral do Solo na Escola/UFPR é popularizar o conhecimento científico e tecnológico relacionado à ciência do solo, promovendo sua conscientização e contribuindo para a atualização do ensino de ciências, biologia e geografia, além de estimular a formação na área de docentes e discentes. O programa é focado em atender alunos e professores da educação básica (educação infantil, fundamental e médio). De acordo com Marcelo, “tem que começar desde criança, antes mesmo de entrar no ensino fundamental”. Mais de vinte universidades já incorporaram ou estão implantando o Solo na Escola.

O projeto estabelece essencialmente quatro linhas básicas: “Recursos Didáticos para Educação em Solos”, que é a produção de materiais didáticos, cartilhas, mapas, livros e vídeos que estão todos disponibilizados no site do programa; “Formação Inicial e Continuada em Solos para Educadores”, uma disciplina nos cursos de licenciatura de geografia e biologia e em cursos de formação continuada para professores presenciais e a distância; “Exposição Didática de Solos”, atividade realizada no laboratório, onde testam novos experimentos que também é direcionado aos cursos e materiais didáticos dos outros projetos; e “Educação Ambiental em Solos”, que atende obras de infraestrutura, tanto para operários e engenheiros que planejam e ocupam o solo, quanto às comunidades próximas a obra, para conscientizar o impacto que alguma construção que possa causar no solo.

Com base na experiência dos cursos já realizados, o programa  já está realizando o projeto de curso de Educação a Distância (EAD), na região sudoeste do estado do Paraná e, no ano que vem expandir para o interior à medida que a Secretaria de Educação conseguir dar suporte ao projeto.

Até o momento atual, o programa já realizou mais de vinte cursos de extensão universitária, editou os livros “O solo no meio ambiente: abordagem para professores do ensino fundamental e médio” e “Conhecendo os Solos” desenvolveu inúmeros artigos científicos e trabalhos apresentados em eventos educacionais e científicos, além de eventos de extensão universitária, que visa transmitir conhecimentos e habilidades a professores do ensino fundamental e médio, especialmente das áreas de ciências e geografia. Marcelo cita também o vídeo “Conhecendo o solo” que fizeram com a TV Paulo Freire, no qual possui quase 300.000 visualizações.

O Solo na Escola/UFPR foi incluído também no programa Plataforma Boas Práticas para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), como uma iniciativa que possa ser reproduzida em outras regiões do mundo. “Ela ocorreu a partir da visita do responsável da FAO na região sul do Brasil e, a partir disso, houve um convite para gente encaminhar a proposta, como é o nosso trabalho e, em função disso, encaminhamos para análise e acabou incluído na plataforma.” Ainda, segundo Marcelo, isso torna o programa mais visível para que outras instituições ou universidades reproduzam algo semelhante.

 

Alanis Hitomi I. Brito
Estagiária de Jornalismo

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