Bioengenharia de solos: uma solução natural para o controle da erosão

Alternativa biológica será tema de sessão técnica na 20º RBMCSA

Chuvas, ventos e variações de temperatura provocadas pelo calor e pelo frio alteram e desagregam os solos. Essa ação modeladora da paisagem é um processo natural e importante para a formação de relevos. O problema surge a partir do momento que é retirada a vegetação, tornando o solo descoberto e exposto a erosões, podendo levar nos casos de longa duração à desertificação.

 A perda da camada mais superficial do solo pode ser causada pelos mais variados fatores, tanto de fenômenos naturais quanto da ação humana. Essa superfície é naturalmente coberta por uma camada de terra, rica de nutrientes inorgânicos e materiais orgânicos, formado por fragmentos de rochas misturados com restos de animais e vegetais que são trazidos pelo vento ou pelo rio. Se essa camada é retirada, esses materiais desaparecem e o solo começa a perder a função de fazer crescer vegetação, e, a partir do momento que vem a chuva, ela arrasta parte dos sedimentos para os rios provocando o assoreamento, sendo mais grave em solos descobertos. Um dos grandes problemas da erosão é a baixa coesão do solo associada a declives fortes causadas por eventos de chuvas intensas.

Uma das técnicas utilizadas para o controle de processos erosivos e como proteção e reforço em obras civis, é a Bioengenharia de solos ou Bioengenharia natural.  Prática multidisciplinar que agrega princípios técnicos, ecológicos, estéticos e econômicos na estabilização de taludes, saludes e encostas. Procedimento que associa partes do que é praticado na engenharia tradicional com a inclusão de materiais vivos.

A Bioengenharia de solos remonta desde a Antiguidade, aos antigos povos da Ásia e Europa. Na China, por exemplo, foram utilizados para estabilizar as margens de cursos d’água, feixes de plantas vivas.

As informações sobre essa atividade será um dos temas da sessão técnica “Recuperação de solos degradados em suas múltiplas funções ambientais” da 20ª Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água (RBMCSA), que acontece nos dias 20 a 24 de novembro em Foz do Iguaçu, Paraná. O professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Francisco Sandro Rodrigues Holanda, irá fazer a palestra “Soluções apresentadas pela Bioengenharia de Solos”, no dia 21 de novembro.

Inserida no campo da ciência, sua aplicação conjuga elementos inertes (madeiras, pedras, geotêxteis, metais, concretos e fibras sintéticas e naturais) e vivos (vegetação e microorganismos) em obras de proteção e recuperação do solo. “A gente trabalha com materiais diversos como toras de madeira, rochas, geotêxteis, mudas, sementes, hidrossemeadura (indicado para taludes terrosos e com características físico-químicas que permitam a revegetação em curto prazo), são vários aspectos que conjugadas recuperam estabilizando taludes que estavam em processo erosivo”, explica Holanda. Além de controlar a erosão, é também função desse meio recuperar a biodiversidade daquelas áreas.

Essa prática atua, principalmente, em taludes de rios e encostas – situações onde o processo erosivo é mais grave. Sua utilização deve ser criteriosa, possuindo um cuidado extra na escolha de plantas que irão compor o ambiente, além do planejamento que deve ter enfoque multidisciplinar, em seu meio físico e biótico.

Quando fala da alternativa, normalmente se relaciona a margens de rio que são áreas de preservação permanente. Usam-se espécies nativas da flora local, associando a elas biomantas antierosivas, preferencialmente, as que são feitas de materiais naturais, como fibra de coco, junco, sisal, bananeira, entre outros. Em estradas, podem-se utilizar espécies exóticas, como gramíneas, que são capazes de aumentar a coesão e resistência dos solos.

Atualmente, segundo Holanda, é preciso mais pesquisa e divulgação no Brasil para torná-la uma solução mais economicamente viável comparada aos métodos tradicionais da engenharia civil. “É preciso investir nas pesquisas dessa área, para que consiga investigar nas espécies a capacidade biotécnica (parte aérea das plantas, para que proporcione uma maior cobertura para o solo, evitando assim, um impacto direto da gota de chuva) e do ponto de vista do sistema radicular, para que ocorra um grampeamento do solo”, reforça Holanda. Para o professor, a pesquisa biotécnica das espécies de plantas da flora nativa brasileira é essencial, pois não são todas as espécies que com rapidez promovem uma boa cobertura e melhoram coesão do solo. “É um trabalho muito demorado, por isso é fundamental o investimento de pesquisa no reconhecimento dessa capacidade biotécnica das espécies que existem para cada situação de clima e de solo”.

Alanis Hitomi I. Brito
Estagiária de Jornalismo

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